quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Por que a gente é assim?

Como eu fiz o blog para guardar as coisas que um dia vou querer reler, possivelmente, os autores favoritos serão repetidos. Ultimamente tenho lido muito Gabito Nunes, autor que atinge o patamar máximo de leitura: fazer com que o leitor se identifique com o texto. Quando passo algum texto dele para alguma amiga, sempre escuto "Nossa, parece que fui eu que escrevi... Ele disse exatamente o que estou pensando". É isso o que faz ele ser tão fantástico para mim.
Ele escreveu dois livros, um publicado "A Manhã Seguinte Sempre Chega" (estou louca para adquirir o meu) e outro digital, "O Tudo que Sobrou".
Lendo o texto dele de hoje, mais uma vez me surpreendi e, quero guardar nas "coisas a serem lembradas".

Por que a gente é assim?
Não sei se você faz isso só pra me irritar ou com intuito de ser convidada pela Ana Maria Braga pra falar sobre desrespeito e promiscuidade. E sei que o convencional seria você me dar uma satisfação sobre onde dormiu ontem e com quem, mas nunca pensei que fosse um dia capaz de dizer isso: não estou nem aí, contanto que você não pareça tão insossa nos próximos dias. Amarga ou azeda, seu gosto não tem sido muito bom.

Verdade, tem a questão do seu trabalho novo. A pressão dos sócios majoritários, os sem-número de relatórios pra ontem, sua colega responsável por cobrar os clientes que acaba fazendo disque-sexo com eles. Já sei da lenga-lenga de trás pra frente, mas, quer saber? O mundo inteiro se levanta cedo e nem todos esquecem o caminho de volta, e tampouco usam a rotina como álibi pra fugir de casa com um de seus superiores ou o rapazola do setor de cópias, o que vier primeiro.

Eu costumava rir na cara dos casais se apaixonavam, e apaixonados decidiam morar juntos. Como pode no fim dar certo um relacionamento que começa com noites insones e perdas de apetite? Aí mudei de ideia - fracos somos nós que nos entregamos a amores sem sal, e pra temperar as coisas terceirizamos o contato físico com amantes mais sem gosto ainda, embora dispostos e desesperados a nos dar tudo que a gente acha que precisa fazer, o que a gente acha que precisa sentir.

Hoje invejo os piegas. Pra ser honesto, preferiria ter andado apaixonado e fora de moda, que fashion e frustrado por aí, como agora. Eles parecem mesmo presos, mas presos por aquele tipo birrento e obstinado de nó, o nó invisível. São a maioria formada por últimos românticos, que secretamente lembram do outro com canções do Bryan Adams. Eles também brigam, batem portas e saem por aí. Mas voltam rindo da cara um do outro, se aninham e dizem coisas como "não consigo ficar braba contigo".

São do tipo que vivem no mundo da lua de mel, e nem dão pelota para as estatísticas de infidelidade, às incidências de "mal-me-quer", a filosofia líquida de Zygmunt Bauman. Ele não está com ela pela bunda grande e a cintura fina. Ela não o ama porque tem emprego fixo e o cabelo do Orlando Bloom. Eles se gostam e ponto. Não se juntam porque é tempo de gostar, porque encontraram quem tanto perseguiam, por insistência, estratégia, conveniência ou negociação. Eles sabem que a vida ata os laços só pra quem oferece os pulsos.

Eles sofrem de paixão, aquele empurrão violento inicial que os casais precisam pra ganhar fôlego e resistência quando as primeiras barreiras tentam impedi-los de se movimentar. E quando a energia provocada por essa trombada inaugural se esgota, e eles se veem num estágio semelhante a um fim, param e analisam o que restou.

Eles podem notar que têm algo muito estranho ou algo mais ou menos ou algo diferente, mas eles sempre têm algo. Nunca olham em volta e sentem o que existe como absolutamente nada, como eu e você. Eu queria ser chantageado pelo implacável amor verdadeiro, e ser obrigado a viver uma história de verdade.
Gabito Nunes